domingo, 18 de julho de 2010

Modernos ou não, carros exigem cuidados nos quilômetros iniciais


Antigamente, todo carro novo era alvo de uma atenção especial. Não só nas ruas, mas também de quem dirigia. Era preciso amaciar o motor e tomar cuidado com a transmissão até que os componentes mecânicos se ajustassem. Mas a modernização fez com que as fábricas evoluíssem o processo de produção. E os carros deixaram de exigir tantos cuidados. Mas, não se sabe bem o porquê, de uma hora para outra a redução de cuidados virou praxe e passou-se a acreditar que os carros modernos saíam da fábrica prontos para o uso, sem necessitarem de maiores preocupações. E a situação se agrava pelo enorme número de consumidores que estão comprando um zero-quilômetro pela primeira vez.

As principais recomendações estão naquele livro que só serve para ocupar lugar no porta-luvas, o manual do proprietário. É ali que a montadora explica como o automóvel deve ser tratado nos seus primeiros instantes de utilização. Lá mostra, por exemplo, como “amaciar o motor”. A técnica é indicada pela grande maioria das montadoras para os primeiros dois mil quilômetros. “Nessa fase, alguns componentes do motor ainda estão em processo de assentamento. Claro que atualmente, mesmo que o cliente use o carro em últimas rotações, o motor não quebra como antigamente, mas o mau uso nos primeiros dois mil quilômetros vai prejudicar o desempenho depois”, explica Luis Carlos Bouças, instrutor técnico da Audi.
Outro cuidado que foi mudado ao longo dos anos graças ao avanço da tecnologia automotiva é a primeira troca de óleo. Antigamente, ela precisava ser feita logo nos primeiros mil quilômetros pela grande quantidade de resíduos resultantes das primeiras partidas do motor. Hoje, para se prevenir e facilitar a vida do cliente, as montadoras usam um óleo especial no primeiro momento, que permite que a troca seja feita na tradicional marca de 10 mil quilômetros.“Recomendamos sempre olhar o nível do óleo a cada 500 quilômetros ou antes de viagens longas”, indica Carlos Henrique Ferreira, assessor técnico da Fiat. A mudança de jeito como se trata o motor nos seus primeiros dias é tamanha que até a expressão “amaciar o motor” caiu em desuso nas montadoras “Hoje, os propulsores já vem pré-amaciados de fábrica. A partir daí dizemos que o motor passa por um período 'verde'. Nesse intervalo de tempo, que está cada vez menor, indicamos ao cliente que use o carro de forma mais comportada e moderada”, reforça Reinaldo Nascimbeni, supervisor de serviços técnicos automóveis da Ford.

O uso comedido do carro no começo de sua existência é importante ainda para os componentes de segurança do automóvel. Pneus e freios, por exemplo, também precisam de um tempo para atingir o seu nível máximo de desempenho. Já que estes equipamentos são fundamentais no comportamento dinâmico, não é recomendado que se force muito o uso deles. “Os pneus precisam de 300 quilômetros para alcançarem a aderência ideal. Já nos freios são necessários cerca de 500 quilômetros para terem sua eficácia normal. Em carros manuais, a embreagem também necessita de cerca de 500 quilômetros para atingir um funcionamento perfeito”, lembra Luiz Estrozi, gerente de serviços e planejamento da BMW. A marca bávara ainda tem um cuidado especial com os modelos preparados pela Motorsport, divisão esportiva da marca alemã. “Temos uma revisão especial nesses veículos aos dois mil quilômetros, mais pela maneira que o cliente dirige, geralmente forçando bastante. No restante da linha, a recomendação é não passar das 4.500 rpm e dos 160 km/h nos primeiros dois mil quilômetros”, conclui

BRUTOS E DELICADOS
Carros de passeio exigem um tratamento especial nos primeiros quilômetros rodados. Mas nada que chegue perto dos cuidados necessários com modelos de alto desempenho. E não são apenas os esportivos que precisam ser olhados diferentemente. SUVs e pick-ups geralmente também necessitam de uma maior resposta do motor. “Pedimos para o cliente tomar mais cuidado ainda com esses tipos de veículos. As rotações altas devem ser evitadas no início e a primeira troca de óleo deve ser feita aos cinco mil quilômetros”, aponta Reinaldo Muratori, diretor de engenharia e planejamento da Mitsubishi.

Motores mais potentes não têm necessariamente de ter uma manutenção diferente dos mais fracos. “O problema é que geralmente o perfil dos motoristas que compram esses carros indica que eles forçam mais o motor. Por isso na hora de revisar os componentes o resultado pode ser um pouco diferente”, completa Reinaldo Muratori. O mesmo vale para o desempenho nos primeiros momentos de vida do carro. “Se você pegar um Audi R8 zero-quilômetro e tentar tirar o máximo de potência dele, é bem provável que o resultado não seja satisfatório. Mas isso é normal e deve mudar depois dos dois mil quilômetros”, exemplifica Luis Carlos Bouças. (por Rodrigo Machado)

TRATE BEM DO SEU ZERO-QUILÔMETRO

Nos primeiros dois mil quilômetros não se deve ultrapassar os 70% da rotação máxima do motor (faixa vermelha). As peças móveis ainda estão se assentando.

Motores flex podem ser abastecidos desde o início com qualquer proporção entre os dois combustíveis

Motores a diesel têm cuidados parecidos com os movidos a gasolina ou flex. A diferença é que o seu limite de rotação é ainda menor

O consumo é prejudicado nos primeiros dois ou três mil quilômetros dos carros

Nos primeiros 500 quilômetros, deve-se evitar frenagens bruscas

Os pneus novos, até os cem quilômetros iniciais, têm uma capacidade de aderência menor. Por isso, é recomendado conduzir com cuidado

Nos carros com câmbio manual, a embreagem também precisa de cerca de 500 quilômetros para a perfeita acomodação dos discos

As viagens longas são recomendadas. Nelas o motor, freios e pneus chegam na temperatura ideal de funcionamento

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